
Foi ali mesmo ao pé da pastelaria A Tentadora, lugar de passagem de Manuel João Vieira – julgamos que o nome dispensa apresentações – que o futuro artista se deparou com o slogan, inscrito num cartaz, que viria a decidir o título do espectáculo que tem hoje em mãos: “O soldado português é tão bom como os melhores.” Na altura de dar nome ao seu mais recente projecto, que sobe ao palco do São Luiz a partir da próxima sexta-feira, dia 11, fez uma leve adaptação e concluiu que O Artista Português é Tão Bom Como os Melhores seria a melhor forma de se anunciar. Como é habitual, não vem sozinho: Lello Minsk, Elvis Ramalho, Lello Marmelo, o Candidato Vieira ou Orgasmo Carlos são alguns dos alter-egos que o acompanham nesta nova investida e abrem ao público as portas do seu universo, colorido por várias identidades.
O projecto começou por ser um álbum com material das várias bandas que lidera, passou a concerto e culminou com um convite do São Luiz à escrita de um texto original que reunisse no mesmo espaço as várias personagens que o cantor, compositor e artista plástico costuma apresentar separadamente. Juntam-se então os Ena Pá 2000, o Quarteto 4444, os Irmãos Catita, os Corações de Atum e um quarteto de cordas, e está alinhado um espectáculo que não é bem um concerto, também não será performance e é mais ou menos teatro. A definição do autor? “Não sei exactamente o que é, mas vamos tentar pô-lo em pé. Rima e tudo!” Continua Manuel João Vieira: “Isto partiu de um ponto A e chegou a um ponto Z, completamente diferente, passando por outros pontos do abecedário. É uma espécie de manta de retalhos.”
A liderar está um apresentador “que não gosta de apresentar, não se interessa realmente por nada e quer apenas falar dos próprios problemas”. É ele que vai introduzindo os delírios pouco ortodoxos dos alter-egos e faz a passagem para as actuações das bandas, cujos membros servem de apoio à acção. António Pires é o responsável pela encenação, Filipe Melo tem a direcção musical. A cenografia assenta numa ideia do pintor João Vieira, pai de Manuel João Vieira, entretanto falecido. “Vou tentar manter o plano que o meu pai tinha”, admite o protagonista, que acabou por colocar em cena também o seu trabalho como artista plástico.
Porque este não é um one man show, Vieira está acompanhado por outros actores e figurantes, uns em palco, outros projectados num ciclorama, ainda que as personagens filmadas sejam também multiplicações da sua pessoa e fruto da sua imaginação. “Eu, no fundo, não interpreto coisíssima nenhuma”, garante.
Bárbara Cruz
quarta-feira, 9 de Dezembro de 2009