Para mim, viajar é pairar e vaguear no meio de outras culturas e gentes, evitando locais onde o turista ofensivamente opulento e “caridoso” ensinou a mendicidade às crianças, promoveu o furto nos adolescentes e corrompeu a genuinidade dos adultos.
É ver as crianças correrem para mim, rirem com a alegria de ver um semelhante diferente, satisfazerem a curiosidade, falarem comigo, tocarem-me, agarrarem-me e seguirem-me com permanentes pulos e gargalhadas libertadoras; é ver as crianças de braço estendido e mão aberta a dizerem adeus quando o carro passa.
É sentir as cores, os cheiros e a algazarra de um mercado ou bazar, discutir e acertar o preço com sorrisos amenizadores, comprar e ambos desejarmos boa sorte ao outro; é também andar sujo e não me importar, porque a mente limpou com gente genuína.
É ver a azáfama das pessoas que correm ou pedalam no meio do caos, num esforço permanente para subsistirem e manterem as suas famílias; é ver os anciãos com vestes longas, barbas cuidadas e imponentes, sentados à porta das suas lojas a venderem o que têm e a distribuírem conhecimentos e conselhos que só a vida dá; é Ir a restaurantes e bares onde as culturas se cruzam na música e nas comidas.
É ir aos templos e locais de culto religioso, rezar como os outros a um Deus que todos temos e é o mesmo, não importa como a Ele nos dirigimos; é dormir numa aldeia remota ou num mosteiro no topo da montanha e ser recebido como um amigo ou familiar que não se via há muito tempo, conviver, rezar e conhecer quem assim nos trata.
É ver a roupagem e adereços das mulheres que trocam um olhar e um sorriso, com a sensualidade e a alegria que só as mulheres genuínas e simples o fazem; é ver o ondular dos seus corpos e guardá-lo na memória como aquilo que de mais belo a natureza tem; é ver uma mulher diferente e apetecer amá-la; é ver no seio nu da mulher que amamenta o filho que trás às costas num abraço eterno, o esplendor da maternidade e da vida.
Viajar é sentir as diferenças entre culturas e reconhecer os valores de cada uma, por muito díspares que sejam; é sentir a enorme riqueza que a diversidade cultural e étnica dá à humanidade.
via nuncaetarde.com