Comunicado ACA-M - Alterações na Avenida da Liberdade e Marquês de Pombal

 

Comunicado ACA-M
23-08-2012
 
    ALTERAÇÕES NA AVENIDA DA LIBERDADE E MARQUÊS DE POMBAL

A Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados congratula-se com a vontade de melhorar o espaço público da envolvente ao Marquês de Pombal e eixo da Avenida da Liberdade. Há mais de uma década que a ACA-M vem alertando para as graves situações de insegurança nestes dois espaços. Melhorar estes dois espaços não é difícil. Com a inauguração do Túnel do Marquês de Pombal, ficou claro para todos os Lisboetas que nos "arranjos de espaços exteriores" os peões e a segurança rodoviária foram a últimas prioridades. Atravessar o Marquês de Pombal na condição de peão é desconfortável e inseguro – já o era antes e com a inauguração do túnel passou a ser ainda mais - para dissipar qualquer dúvida ver estes exemplos (Blog A Nossa Terrinha). O excesso de velocidade e as iniquidades do sistema semafórico na Avenida da Liberdade já foram motivos de vários protestos por parte da ACA-M.



Marquês de Pombal


Não sendo a alteração de paradigma que Lisboa precisa, as modificações agora previstas para a Rotunda do Marquês de Pombal são bem vindas. Pelo que se pode analisar na documentação posta à disposição na Consulta Pública, os atravessamentos pedonais ficam um pouco mais fáceis e seguros. Sendo uma zona de terminal de carreiras de autocarros, transferência entre modos de transporte e partida de autocarros turísticos, é essencial que os atravessamentos pedonais sejam todos feitos de forma confortável e segura. No entanto, confortável implica tempos de “verde” pedonal razoáveis para a população idosa, percursos directos seguindo o mais próximo possível as linhas de desejo, tempos de espera reduzidos e, finalmente, faixas de rodagem o mais estreitas possível nas zonas de atravessamento. Melhorar a segurança implica essencialmente velocidades mais baixas por parte dos veículos motores e menor exposição ao perigo (quer de forma legal quer por vias de tentações de linhas de desejo não satisfeitas) por parte dos mais vulneráveis. Dos elementos dados a consultar pela CML para o projeto do Marquês de Pombal, parte destas questões são melhoradas, nomeadamente, através de um maior respeito pelas “linhas de desejo” dos peões, tornando um pouco mais confortáveis os percursos pedonais em torno da rotunda. Infelizmente, não são facultados os tempos de semaforização para os diferentes modos de transporte, nem as estimativas do aumento ou redução da eventual exposição do peões ao ruído e a gases nocivos à saúde (com esta proposta haverá mais circulação de veículos poluentes junto às fachadas).


Lamentamos que não tenha havido coragem para uma intervenção onde haja uma verdadeira inversão dos valores que tiveram origem no conceito original da rotunda, que o projeto seja pouco mais que uma gestão e optimização de tráfego rodoviário e não uma renovada visão de espaço público para esta parte da cidade – por exemplo, a Avenida Joaquim António de Aguiar continuará a ser um "esgoto" de tráfego em direção à cidade e a Avenida Fontes Pereira de Melo continuará com passeios de dimensão reduzida para a dimensão da avenida e quantidade de tráfego pedonal. Os percursos pedonais propostos continuam pouco confortáveis e directos (por exemplo, para atravessar o topo Norte da Av. da Liberdade, o peão terá que atravessar 6 faixas e 10 vias rodoviárias). O aumento de tráfego no anel exterior, para além de aproximar o tráfego às fachadas e aos percursos pedonais, com todos os impactos nocivos associados, torna mais perigosas as saídas e entradas do metro obrigando os passageiros a fazer sempre pelo menos um atravessamento viário.



Avenida da Liberdade


Em relação à Avenida da Liberdade, congratulamo-nos com a redução do número de faixas de rodagem no eixo central e com a vontade de reduzir estacionamento e velocidades nas laterais. É particularmente importante para a segurança e conforto do atravessamento dos peões, a proposta de uma ilha central de resguardo do atravessamento do corredor central. Como é habitual, infelizmente nenhuma informação é facultada sobre outros meios de transportes para além do automóvel (sobre o qual existe uma profusão de estatísticas). Obviamente um sinal das prioridades por parte de quem decide, os peões, as bicicletas e os Transportes Públicos são ignorados nos dados estatísticos apresentados e nem há qualquer indicação de como se movimentarão no espaço da avenida (para além dos corredores BUS) - por exemplo, a "Planta de Ordenamento" da Avenida nem sequer tem as passagens de peões assinaladas. Estranhamos que nos “esquemas” disponibilizados, a bicicleta esteja sobre um dos passeios laterais, quando a CML deveria saber que é um comportamento perigoso e ilegal. Esperamos que o espaço para a bicicleta não seja colocado sobre o passeio, quando os ciclistas deveriam beneficiar das laterais desenhadas para receber menos tráfego e de forma a que as velocidades possibilitem a partilha da faixa de rodagem das bicicletas com o resto dos veículos. Ficamos no entanto muito apreensivos com as alterações de sentidos nas laterais, que poderá vir a provocar atropelamentos dos peões que, tendencialmente, tomarão mais atenção à direcção contrária. A manter-se esta decisão, mais responsabilidade existe da parte da CML para incluir no desenho urbano das laterais dispositivos para a redução das velocidades para valores inferiores a 30 km/h. De facto, as laterais da Avenida da Liberdade poderiam ser um excelente projecto piloto de uma via mista e partilhada com "prioridade ao peão" - solução utilizada e testada na maior parte das capitais da Europa e preconizada em Portugal pelo IMTT e ANSR.


Estranhamos que, apesar da vontade explícita de reduzir o tráfego motorizado nesta parte da cidade, a CML continue a propor parques de estacionamento subterrâneos com centenas de lugares em plena Avenida da Liberdade, quando é talvez a zona do país melhor servida por Transportes Públicos e das mais poluídas da Europa. Estranhamos também como é que uma proposta que visa essencialmente reduzir a poluição atmosférica da Avenida da Liberdade, não apresente qualquer estudo ou dados quantitativos sobre as estimativas de redução das emissões depois da implementação desta proposta.