fica a ideia ;)
fica a ideia ;)
"can be a joy of conversation, joy of eating, joy of anything one might do… And joie de vivre may be seen as a joy of everything, a comprehensive joy, a philosophy of life, a Weltanschauung. Robert's Dictionnaire says joie is sentiment exaltant ressenti par toute la conscience, that is, involves one's whole being."
Existem muitas diferenças lexicais e ortográficas entre o inglês falado em Inglaterra, na Irlanda, nos Estados Unidos, no Canadá, na Austrália, na Nova-Zelândia e muitos outros países, e não consigo perceber porque é que eles conseguem viver bem com isso, mas, para os países onde se fala português isso parece ser um drama!... Mas o facto é que há muitas diferenças na língua falada – diferenças lexicais e no uso da Gramática – entre Portugal e o Brasil, mas a televisão portuguesa transmite novelas brasileiras sem precisar de legendas.
Antigamente líamos em Portugal os "Tio Patinhas" e as "Mônica", editados no Brasil, pela Abril, com uma ortografia diferente da nossa, com construções de frases diferentes e com termos exóticos como "ôba", "legal", "cadê" e "tchau" [ninguém dizia tchau em Portugal antes dos anos 80], mas, com 8 anos de idade, isso não nos atrapalhava. Também tínhamos cá, entre outros livros, a enciclopédia juvenil "Conhecer" (igualmente editada no Brasil, pela Abril) e não nos fazia confusão nenhuma ler "trem" e "ônibus" (que sabíamos que era como se dizia comboio e autocarro no Brasil) nem "canadense" em vez de "canadiano".
Mas, segundo parece, actualmente, essas diferenças causavam uma grande confusão e acharam que era preciso fazerem um pacto político (que não tem nada de cultural) chamado "AO1990", que, apesar de o considerarem essencial, levaram mais de 20 anos para aplicá-lo. Queriam à força uniformizar a ortografia (que não uniformizaram nada) mas é um facto que continuamos a ter "ônibus" de um lado e "autocarros" do outro e que palavras como "fato" e "banheiro" têm significados totalmente diferentes nos dois lados do Atlântico.
Esta grande negociata foi toda feita – pensava eu e muita gente – para vender muitos livros portugueses no Brasil e livros brasileiros em Portugal. Mas talvez não, ou a coisa parece que não é assim tão simples... ou então deve ser de uma estupidez sem limites!
Vejamos, então, este exemplo e o absurdo de tudo isto:
Estava eu a acabar de ler um dos livros que trouxe do Brasil – o "Guia politicamente incorreto da história do Brasil" – quando vi uma pilha de livros iguais num expositor de uma livraria em Lisboa. Reparei, com surpresa, que o mesmo livro não era exactamente igual... Não vieram todos do Brasil, de navio, num contentor, como antigamente. Tinham sido editados em Portugal!
Provavelmente há grandes vantagens, em vez de transportar milhares de livros através do oceano, em mandar-se um CD e imprimir-se os livros do outro lado...
As críticas e aquelas coisas que se escrevem na contra-capa e nas badanas eram diferentes; para mercados diferentes, tem lógica... Mas o miolo devia ser igual... pensava eu!... Afinal o livro já estava escrito conforme o "Acordo Ortográfico de 1990", com palavras sem o trema – até agora tão usado no Brasil em certos hiatos – e palavras escritas como "heroico", "voo" ou "para" [pára] (do verbo parar), o texto devia ser exactamente o mesmo, em Português "universal"... mas não! Para grande espanto meu, constatei que o livro foi "traduzido"!
Afinal, inventaram um estúpido "acordo ortográfico", para uniformizar a escrita, mas, pelos vistos, é perfeitamente inútil, uma vez que, embora o livro estivesse escrito em "acordês 1990", "traduziram" o texto original de "acordês brasileiro" para "acordês português", como se fosse um livro numa língua estrangeira!...
Assim, os "fatos" passaram a ser "factos" e os "ternos" (p.149) passaram a ser "fatos". De facto!...
Os políticos fizeram um "acordo ortográfico" para termos todos a mesma ortografia, mas, em inúmeras palavras que têm acento circunflexo, na edição original brasileira, este foi substituído por acento agudo na edição portuguesa. Assim, os "acadêmicos" passaram a "académicos", "milênios" a "milénios" e "quilômetros" a "quilómetros"; o "econômico" ficou "económico", o "ingênuo" é "ingénuo", o que era "autônomo" torna-se "autónomo" e temos a "colônia" que é "colónia".
Se por um lado, de uma edição para outra, tivemos direito a ganhar um "c", e os "fatos" são "factos", por outro lado tiraram-nos inúmeros "c"s e "p"s a que estávamos habituados e muita falta nos fazem.
Os "fatos" podem ser "factos", mas o que é um facto é que o famigerado "AO1990" amputou-nos todos os "c"s e "p"s (herdados da etimologia e que abrem a vogal anterior), mas, o mesmo "AO1990" concede ao Brasil (onde já os tinham tirado quase todos) o privilégio de manter aqueles que aindam mantinham e que agora nos tiraram!
Assim, podemos ver neste livro, que o "aspecto" (que eles mantêm) ficou um "aspeto" (com mau aspecto), as "concepções" inconcebivelmente passaram a ser "conceções" (até parecem concessões!) e as "recepções" lamentavelmente tornaram-se "receções" (que até faz lembrar a maldita recessão!). Também há "infecções" que se tornaram "infeções"... Na edição brasileira está escrito que "decepciona", mas na portuguesa, decepcionantemente, "dececiona"!
Mas a coisa não foi só pôr ou tirar "c"s e "p"s; "escapou do controle" (p.51) passou a "escapou do controlo" (e a coisa continua descontrolada!)... E assim a "selvageria" (p.69) tornou-se uma "selvajaria"!....
Em se tratando "d'água" (p.143), no Brasil ainda é à maneira do século XIX, mas em Portugal ficámos com um tratamento "de água" moderno.
Com o "AO1990", os políticos ignorantes quiseram impôr-nos uma ortografia toda igual, mas muitas palavras não o são, e assim verificamos que no Brasil os "registros" são "registos" em Portugal. Encontramos "súditos" que passam a ser "súbditos", "onipotente" é "omnipotente" e a "anistia" tornou-se "amnistia". Finalmente (tratando-se de aeronáutica), lá "o aparelho nunca decolou" (p.248) e deste lado "o aparelho nunca descolou" cá. Está visto!
Ficamos a saber que "1 bilhão" [não é um bilião, nem uma bilha muito grande] é "um milhar de milhão", os "5 bilhões de francos" (p.196) são "cinco mil milhões de francos" (em francês seriam "cinq milliards de francs"... e é bom não fazer confusões com os números, milhões, bilhões e biliões!) e depois temos "indenizações" (p.195) que resultam em "indemnizações".
Quando vemos um "caminhão" [não é um grande caminho] vemos do outro lado um "camião" e, na água, os "encouraçados" (p.182) são "couraçados".
Assim, podemos ver que no Brasil é um "blefe" (p.285) e em Portugal é um "bluff" [em itálico] e observamos que de "fato; uma foto o registra" (p.247), mas, do outro lado é um "facto; uma fotografia regista-o". É espantoso!
No Brasil podemos ainda encontrar "Moscou" e "Stálin" (p.302) enquanto que em Portugal encontra-se "Moscovo" e "Estaline" e verificamos que o "nazista" (p.153) passou a ser "nazi"... E concluímos que o "esporte" (p.122) de lá é o "desporto" de cá!
Quanto à Gramática (apesar de nos terem inventado uma ortografia "única"), podemos ver que no Brasil "não cansaram de repetir" (p.50) e em Portugal "não se cansaram de repetir". E apesar de "misturarem-se" em ambas as edições, "se ofereceram", na edição brasileira, antes de "se apoderar" (p.50), ao passo que "ofereceram-se", na edição portuguesa, além de "apoderar-se". E se numa edição "se interessou" (p.158) e "se queixou" (p.160), já na outra "interessou-se" e "queixou-se"...
Podemos também constatar que "até o século 19" (p.84) passou a ser "até ao século 19", que avançar "até o Paraguai" (p.181) é "até ao Paraguai" e "até a Primeira Guerra Mundial" (p.195) é "até à Primeira Guerra Mundial". A "caixinha de fósforo" [não é uma gralha, se bem que na realidade tenha muitos] (p.164) é uma "caixinha de fósforos".
Ficamos ainda esclarecidos, depois de ler no livro brasileiro, "que o país emprestou largas somas dos ingleses" [que foram os ingleses que emprestaram o dinheiro deles ao país] (p.188) lemos no português "que o país pediu empestadas largas somas aos ingleses".
Mas, no essencial, se a edição brasileira "fala" (p.163) uma coisa, a portuguesa "diz" (mais ou menos) a mesma!
Continuando com esta pequena amostra, vemos que no Brasil é "para tirar um sarro" (p.143) e em Portugal é "para se rirem".
Deste modo, os cães "com cara de filhotes" (p.53), aqui ficam "com cara de cachorros", o que lá "aparece como o mocinho" [o bom da fita] (p.174), aqui "aparece como o bom rapaz" e o professor do brasileiro é "ranzinza" (p.271) e o do português é "rabugento".
Podemos ver ainda a "apostila" (p.177), que ficou "sebenta" e constatar que, quando o Paraguai resolveu, "brigar contra o Brasil" (p.179) [não se tratou de uma simples zanga] passou a "lutar contra o Brasil" [foi guerra a sério]!
É verdade que as pessoas, em Portugal, vêem as telenovelas brasileiras sem legendas, mas comparando as duas edições do mesmo livro, ficamos a saber "que lhe rendeu o apelido de "Zé Alfaiate"" (p.79) resultou "que lhe valeu a alcunha de "Zé Alfaiate"". Vemos que a "pura cascata" [conversa fiada; treta] (p.87) é uma "pura invenção" e, continua-se, no Brasil, "falando grandes besteiras" (p.214) e, em Portugal, "dizem grandes disparates". Eles lá têm "telefones celulares" (p.173) e nós cá temos "telemóveis".
Por outro lado, o "estilinge" [fisga] (p.246) e o "picareta" [trafulha] (p.262) mantiveram-se na mesma!...
E, para acabar, podemos ver um exemplo magnífico, referindo-se ao famoso cangaceiro Lampião, que "o homem era brega no último" (p.301), ficou que "o homem era piroso até mais não". Sim, está certo...
Mas então... por esta amostra, pergunto eu: para que é que serve terem feito esta merda deste "acordo" ortográfico?!
(Continuando a escrever conforme o Acordo Ortográfico de 1945)
Luis Pinto-Coelho
humor do melhor que há